sexta-feira, 2 de março de 2012

A "opção" sexual

Foto daqui

É comum que algumas pessoas se refiram à homossexualidade como uma "escolha", "preferência" ou "opção sexual". No entanto, qualquer pessoa - seja gay, heterossexual ou bissexual - sabe que não houve eleição: não houve um momento da vida em que, diante de dois caminhos possíveis, "decidiu" gostar de mulheres ou homens, depois de muita reflexão, consulta ao horóscopo ou aos amigos, busca de informações no Google, experimentar de tudo um pouco para ver como é, jogar a sorte na moeda ou fazer uni-duni-tê.

(Seja você gay ou não, pergunte-se: quando você "decidiu"? Poderia ter sido o contrário? Se você gosta de mulheres, poderia "decidir" que a partir de amanhã vai gostar de homens? Se você gosta de homens, poderia "decidir" que a partir de amanhã gostará de mulheres? Você poderia, em algum momento, "escolher" ser o oposto do que você é? Você é sequer capaz de se imaginar sendo diferente? Você não sabia quem é, de forma mais ou menos consciente, desde a infância?).

O engraçado é que ninguém fala sobre a heterossexualidade como uma "opção". Ninguém perguntou o que "causa" da heterossexualidade. Os negros são "pessoas de cor", os brancos são transparentes. E as pessoas hétero são os "brancos" da sexualidade.

Somos todos educados desde a infância para sermos heterossexuais, e todos os padrões que nos ensinam, em casa ou na escola, vêm sob a forma de menino + menina. Então, o que acontece conosco, gays e lésbicas, é que em algum momento percebemos que não nos encaixamos nesse molde. Nós não escolhemos, nós descobrimos. Os heterossexuais não precisam entender nem descobrir nada, porque desde crianças é-lhes dito e ensinado que, sendo homens, um dia começarão a se sentir atraídos por mulheres; se forem mulheres, em algum momento começarão a se sentir atraídas por homens, e é o que de fato lhes acontece. Assim, seguem em frente e pronto. A nós, porém, disseram o mesma e em algum momento percebemos que era mentira: o que sentimos é diferente do que nos disseram que iríamos sentir. Não podemos simplesmente seguir adiante, precisamos ver o que fazemos com isso que "está nos acontecendo". Com os heterossexuais não "está acontecendo" nada.

Ao começar a perceber que nossos sentimentos contradizem as expectativas dos outros, nem todos reagem da mesma maneira. Algumas pessoas "assumem" sua orientação homossexual desde a infância ou adolescência e outros, no entanto, fazem isso mais tarde, mesmo sendo já bem mais velhos. Marguerite Yourcenar escreveu (em 1929) um belo livro chamado "Alexis, ou o Tratado do Vão Combate", que fala de um homem que tenta ser o que não é, até que finalmente aceita que não pode e escreve uma carta para sua esposa explicando por que a deixa. Felizmente, à medida que os preconceitos vão caducando e morrendo, esses casos estão se tornando menos freqüentes.

Seja na idade que for, depois que assume a sua sexualidade a maioria dos gays começam a se lembrar de coisas que confirmam que, no fundo, sempre souberam. Começam a perceber como gostavam do coleguinha do colégio e a entender por que ficaram com ciúmes quando o amigo do ensino médio começou a namorar, ou por que se interessavam tão pouco pelas mulheres quando todos os seus amigos não falavam de outra coisa. Ao relegar a homossexualidade ao horário impróprio para crianças, nossa sociedade condena crianças e jovens gays e lésbicas a pular uma etapa de suas vidas e os priva de experiências que outras crianças vivem naturalmente à medida que crescem.

Sim, naturalmente. Quando um menino que está na quinta série chega em casa e conta que tem uma namorada, parabenizam-no. Alguns têm uma namorada já no jardim de infância. Claro que "uma namorada" nessa idade não significa o mesmo que "ter uma namorada" aos 15 ou aos 30, mas mesmo esses primeiros "namoricos" são importantes no amadurecimento. A sexualidade está sempre presente em nossas vidas, mas passa por várias etapas até a idade adulta. A sexualidade de gays e lésbicas deveria ser autorizada a desenvolver-se da mesma forma, passando pelas mesmas experiências, nas mesmas idades.

Você não escolhe ser gay ou lésbica, assim como não se escolher ser heterossexual, e também não se pode mudar. Nem há qualquer necessidade: ser gay é tão normal e natural quanto ser heterossexual, do mesmo modo como ser branco ou negro, ter olhos pretos, verdes ou azuis ou ser destro ou canhoto. Apesar de, até há pouco tempo, os canhotos serem castigados na infância e obrigados a escrever com a mão direita.

Quando acabarem os preconceitos em relação às sexualidades "diferente" (que, afinal, são tão diferentes quanto a heterossexualidade é diferente de outras orientações sexuais), provavelmente gays e lésbicas começarão a viver sua sexualidade na mesma idade e da mesma forma que as pessoas heterossexuais, sem que isso seja uma questão, sem ninguém pense que é preciso escolher e que uma "escolha" será melhor que outra. A idéia de "assumir-se" ou "sair do armário", então, será um anacronismo.

Da mesma forma os canhotos agora aprendem desde crianças a escrever com a mão esquerda, e a nenhum pai ou professor parece que isso não seja normal.

Então, este blog não existirá mais.

- Bruno Bimbi
Traduzido do blog Tod@s

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